Novo Livro discute a Micro-História e suas Transformações
No final de maio será lançado um novo livro sobre a Micro-História no Brasil. Organizado por Maíra Vendrame e Alexandre Karsburg, o livro “Micro-História, um método em transformação”, da editora Letra e Voz, chega com uma proposta urgente: discutir os caminhos pelos quais esse método historiográfico tem seguido nos últimos anos, com destaque para o diálogo com a Global History. A obra, que conta com autores renomados, tem enorme potencial para despontar como uma referência obrigatória, sobretudo por apresentar um balanço fundamental sobre a Micro-História, contribuindo em grande medida para as discussões em torno da teoria e da metodologia da História.
A propósito, por falar nos estudiosos que assinam os capítulos do livro, cabe observar a relevância dos mesmos para a pesquisa histórica e, em particular, para a microanálise. Abrindo a primeira parte do livro, Giovanni Levi analisa a interação entre a Micro-História e a História Global. O autor, um expoente no assunto, inicia uma discussão historiográfica que dá o tom da Parte I da obra. Os capítulos que se seguem, escritos por estudiosos estrangeiros como Maurizio Gribaudi e Jesus Bohorquez, discutem os rumos da Micro-História, sublinhando suas características e abordagens. Desde a proposta de uma Micro-História aplicada, de Giovanni Favero, a uma Micro-História translocal, salientada por Christian G. de Vito, a metodologia é desnudada e debatida.
A segunda parte do livro envereda para estudos específicos sob a ótica da microanálise. Do ponto de vista organizacional, é um acerto. Seja para leitores afeitos a esse viés historiográfico, seja para os que estão em busca de conhecê-lo mais a fundo, a leitura de estudos de caso se torna muito mais interessante após uma esclarecedora discussão. Nesta parte, pesquisadores brasileiros oferecem importantes contribuições. Dentre eles estão Henrique Espada Lima, que vem se dedicando a analisar a Micro-História e assina um capítulo sobre as relações de ex-escravos e seus senhores no século XIX, e Jacqueline Hermann, que reconstrói a trajetória de um bastardo candidato a rei de Portugal. Ao todo, são 8 capítulos que dão destaque ao fazer historiográfico a partir da microanálise.
A terceira e última parte dá voz a dois nomes importantes da Micro-História. Primeiro, com um capítulo de autoria de Carlo Ginzburg, que escreveu o célebre “O Queijo e os Vermes” e constitui um dos principais expoentes deste método historiográfico. Ginzburg analisa “Os Andarilhos do Bem”, obra seminal da Micro-História, cinquenta anos depois que a concebeu. Uma oportunidade única de atentar para as reflexões do próprio autor, mais maduro e consagrado, sobre um dos seus principais trabalhos. Por fim, uma entrevista feita por Maíra Vendrame com Maurizio Gribaudi. Autor de “Paris ville ouvrière: une histoire occultée, 1789-1848", Gribaudi é um nome importante da Micro-História que merece ser melhor conhecido no Brasil.
“Micro-História, um método em transformação” será lançado, enfim, em um momento oportuno. A metodologia, que surgiu na Itália e influenciou decisivamente a historiografia ao propor diferentes escalas de observação, demanda discussões mais aprofundadas em língua portuguesa. Neste sentido, a obra organizada por Vendrame e Karsburg chega para ajudar a preencher esta lacuna. A expectativa é a de que o livro contribua também para incentivar novos estudos sob a perspectiva da Micro-História no país, uma vez que oferece apontamentos renovados a respeito do assunto. A obra definitivamente é um excelente investimento.
O livro já está em pré-venda e pode ser encomendado no site da editora Letra e Voz.
Para saber mais sobre a Micro-História, alguns de nossos artigos são um bom começo:
Micro-História: compreendendo uma perspectiva inovadora
A Influência da Micro-História na Historiografia Brasileira sobre a Colonização
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Orobó: uma comunidade indígena rebelde no Espírito Santo
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Luís Rafael Araújo Corrêa é professor do Colégio Pedro II e Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Autor de artigos e livros sobre História, como a obra Feitiço Caboclo: um índio mandingueiro condenado pela Inquisição.