Olimpíada Nacional em História do Brasil: o exemplo de sucesso do IFRN

História em Rede
6 min readJun 27, 2021

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A Olimpíada Nacional em História do Brasil já está consolidada no calendário das escolas brasileiras há anos. Na sua 13ª edição em 2021, o projeto segue despertando o interesse de alunos e professores da Educação Básica, mesmo diante do contexto emergencial ocasionado pela pandemia de COVID-19. Realizada desde 2020 de forma remota, a atual edição teve até o momento seis fases online com questões de múltipla escolha e tarefas voltadas para conteúdos de História do Brasil. As equipes são compostas por um professor de História, que atua como orientador, e três estudantes, todos empenhados em uma verdadeira aventura intelectual. A atividade tem papel fundamental a fim de desenvolver a autonomia intelectual e a construção do pensamento crítico entre os alunos, constituindo uma proposta inovadora conduzida competentemente pelo Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

E as finais da 13ª edição da Olimpíada já estão definidas. Ao todo, 415 equipes de 99 cidades do país estão na última etapa, concorrendo a medalhas que serão conferidas em uma cerimônia virtual no dia 12 de setembro. Deste total, a região Nordeste é a que apresenta o maior número de equipes aprovadas à grande final, 285 grupos, o que equivale a 68,67% das equipes finalistas. Um resultado impressionante e que indica um trabalho comprometido com a Olimpíada. O mapa das equipes finalistas chama a atenção para o predomínio dos estados do Nordeste e de São Paulo nesta atividade:

Um dos destaques da 13ª edição da Olimpíada foi o estado do Rio Grande do Norte, em particular o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). O Instituto, instituição de ensino de excelência no estado, aprovou nada menos do que 43 equipes (28 do campus Mossoró, 09 do campus Natal, 04 do campus Apodi e 02 do campus São Paulo de Potengi) para a etapa final, indicando o ótimo trabalho conduzido por professores e estudantes envolvidos com a competição. Mas qual é a fórmula de tanto sucesso? Para conhecer um pouco do que tem sido feito no IFRN, conversamos com o professor Gerardo Junior, um dos responsáveis por este trabalho no instituto. Gentilmente, ele compartilhou sua experiência com a Olimpíada e um pouco da metodologia empregada junto aos alunos.

História em Rede — Boa tarde professor Gerardo Junior, obrigado por aceitar este diálogo tão importante. Antes de tudo, parabéns pelo trabalho que os professores de História da IFRN desempenham e que pode servir como referência em todo Brasil. Sobre a Olimpíada, como surgiu este projeto tão bem sucedido no Instituto?

Profº Gerardo Junior — Boa tarde! Não há um projeto institucional da ONHB no IFRN. A participação nessa “aventura intelectual” ocorre a partir da ação/decisão de alguns professores/as em cada campi. Embora se evidencie o apoio de determinados Núcleos Gestores de campi, o que acontecia até a 4ª edição, e na 8ª, era que a Reitoria custeava todas as equipes finalistas de todos os campi, com seus respectivos professores orientadores, para realizarem a Prova Final em Campinas. Não obstante, no Campus Mossoró, a ONHB é um projeto de ensino. Dessa forma, conseguimos garantir uma verba para os custos de pelo menos 5 equipes finalistas quando na fase presencial da ONHB e podemos registrar como carga horária no Plano Individual de Trabalho (PIT). Temos todo o apoio da Gestão, da equipe pedagógica, dos professores, dos pais, enfim, de toda comunidade escolar.

Alunos e professores do IFRN embarcando rumo a Campinas para a final da 11ª ONHB

História em Rede — Os resultados da IFRN são excelentes, mas certamente é fruto de um trabalho bem organizado. Como é a rotina de orientação e de estudos voltados para a Olimpíada Nacional em História do Brasil?

Profº Gerardo Junior — De fato os resultados do IFRN têm sido relevantes! Segundo a minha pesquisa para o Mestrado, somos a única instituição de ensino brasileira, em nossos diferentes campi, que foi medalhista de ouro em todas edições da ONHB, com mais de mais 300 equipes finalistas nas 13 edições da ONHB. Apesar de saber de professores e professoras que realizam excelentes laborações com suas equipes, em diversos campi, como Francisco Carlos, André Mendes, Gileno Câmara, entre vários outros/as, no entanto, como disse anteriormente, eu só conheço mais minunciosamente a preparação do Campus Mossoró. Dessa forma, e complementando informações na minha primeira resposta, começamos a preparação em fevereiro, com uma aula inaugural. Em março, organizamos um ciclo de palestras, com os professores da casa e convidados, e em parceria com o Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Realizamos também 04 atividades virtuais, geralmente no mês de abril. Durante as primeiras seis fases, temos um encontro semanal com as Equipes. Nas “edições pandêmicas”, os encontros foram/são remotos.

Dicionário biográfico Excluídos da História, que inclui 2.251 verbetes sobre personagens raramente estudadas na historiografia tradicional e que foi elaborado pelos participantes da 11ª edição da ONHB: https://www.olimpiadadehistoria.com.br/especiais/excluidos-da-historia

História em Rede — Para os alunos, a experiência de participar de uma Olimpíada é marcante. Qual é o perfil dos alunos que fazem parte das equipes que representam o IFRN?

Profº Gerardo Junior — Segundo levantamento dos Setores de Registro e de Assistência Social, cerca de 60% dos nossos estudantes são de baixa renda. Eles passaram por um processo seletivo muito concorrido para entrar no IFRN. Somos uma instituição de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e Tecnológica, então, temos estudantes inscritos na ONHB do 1º ao 4º ano, de diferentes cursos (Edificações, Eletrotécnica, Informática, Mecânica, etc.).

Cartaz de curso de Formação Continuada realizado pelo Departamento de História da Unicamp para capacitar professores: a Olimpíada é mais do que uma simples competição

História em Rede — A julgar pelo desempenho do IFRN, o trabalho conduzido é bastante comprometido. Como você avalia a importância da Olimpíada Nacional em História do Brasil para os alunos da Educação Básica?

Profº Gerardo Junior — Fico muito feliz pelos discentes abraçarem efusivamente essa jornada histórica que é a ONHB! Consideramos a ONHB uma excelente metodologia potencializadora de aprendizagens dos professores e estudantes para além da disciplina de História. No Campus Mossoró, a participação de uma média de 190 estudantes em suas edições tem fincado o nosso espaço no campo das disputas disciplinares e quase anulado os negacionismos em nossas aulas.

Medalhas da 11ª edição da ONHB

História em Rede — Para finalizar, quais sugestões você daria para professores e alunos que pretendem concorrer e que gostariam de aproveitar ao máximo esta experiência?

Profº Gerardo Junior — Sem a pretensão de indicar ou considerar que haja uma “receita de bolo”, sugiro inscrever o máximo de Equipes possíveis; acreditar e desenvolver o protagonismo e a autonomia dos estudantes e suas respectivas equipes; organizar um cronograma de preparação, com variados tipos de atividades; incentivar ex-estudantes-olímpicos a participar da monitoria, criada na 12ª edição pela Comissão Organizadora da ONHB; e tentar conquistar o apoio de toda a comunidade educativa da escola.

Fica a torcida para que as equipes do IFRN mantenham o sucesso e prossigam como referência no Ensino de História. E você? Se interessou pela Olimpíada Nacional em História do Brasil? Então não perca a oportunidade de se inscrever na próxima!

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Luís Rafael Araújo Corrêa é professor do Colégio Pedro II e Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Autor de artigos e livros sobre História, como a obra Feitiço Caboclo: um índio mandingueiro condenado pela Inquisição.

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Espaço dedicado a divulgar o conhecimento histórico ao grande público e a refletir sobre a importância da História.